Supermercados aumentam portfólio para atrair clientes com orçamento mais apertado
por Julie Creswell (THE NEW YORK TIMES) – Os salgadinhos se tornaram bem caros. Por anos, os clientes que paravam nas lojas de conveniência Casey’s General Stores, uma rede da região do Meio-Oeste dos Estados Unidos, não pensavam duas vezes em pegar um refrigerante e um pacote de Doritos ou de batatas Lay’s.
Mas ao longo do último ano, à medida que o preço de um pacote de batatas fritas disparou e parte dos clientes ficou com o orçamento apertado pelo alto custo do combustível e outras despesas, eles começaram a pegar a marca própria mais barata da Casey’s.
Então a Casey’s começou a estocar mais de suas próprias batatas fritas, em uma variedade de novos sabores. Neste verão (inverno no Brasil), a marca Casey’s representou um quarto de todos os pacotes de batatas fritas vendidos, reduzindo as vendas de grandes marcas como Frito-Lay, que pertence à PepsiCo.
“À medida que a inflação continua a aumentar, mais pessoas experimentam alternativas”, disse Darren Rebelez, CEO da Casey’s, que possui 350 produtos de marca própria e planeja incluir mais 45 este ano. “Se você colocar a alternativa bem na prateleira, ao lado da opção cara, as pessoas podem dizer: ‘Por que não?’ e experimentar.”
Grandes empresas de alimentos conquistaram participação de mercado durante a pandemia. Com problemas na cadeia de suprimentos afetando o que iria para as prateleiras, as pessoas estavam comprando basicamente o que conseguiam encontrar.
E elas continuaram comprando mesmo quando os preços dispararam, quando as marcas de alimentos e bebidas elevaram os preços para manter seus níveis de lucro, cobrindo os crescentes custos de ingredientes e mão de obra.
Queijos e legumes conquistam consumidor
Mas, agora, com os varejistas expandindo suas ofertas de alimentos e bebidas de marca própria, os consumidores estão mudando lentamente seus gastos. No geral, alimentos e bebidas de marca própria aumentaram para uma participação de 20,6% nas despesas com supermercado, em comparação com 18,7% antes da pandemia, segundo pesquisa feita pela empresa Circana.
Mas uma análise mais aprofundada de algumas categorias revela que os produtos de marca própria estão ganhando terreno significativo em relação às marcas nacionais.
As marcas próprias conquistaram 38% das vendas de legumes enlatados entre abril e junho deste ano, segundo a empresa de pesquisa de mercado Numerator. Os dados também mostram que o queijo de marca própria detinha 45% do mercado, e o café, quase 15%.
A mudança nos gastos reflete uma base de clientes que está chegando ou já alcançou o seu ponto de inflexão. A inflação, que subiu para 3,7% em setembro nos EUA, está aumentando em um ritmo menos acelerado do que há um ano, mas milhões de clientes ainda enfrentam preços cada vez mais altos nos supermercados.
A tendência está tendo um efeito maior entre aqueles com renda mais baixa, que gastam uma parcela maior de seus salários com alimentos, mesmo com o encerramento de uma política adotada na pandemia que aumentou a quantia de dinheiro que os beneficiários do programa de auxílio-alimentação receberam nos últimos três anos.
Neste mês, os pagamentos de empréstimos estudantis federais, que estavam suspensos devido à pandemia, também foram retomados. Além disso, as taxas de cartões de crédito e hipotecas estão subindo.
Dois terços dos consumidores disseram em julho que compraram mantimentos mais baratos em varejistas, um aumento de quatro pontos percentuais em relação ao ano anterior, de acordo com a McKinsey. A mudança, segundo a empresa de consultoria , foi particularmente maior entre aqueles com renda inferior a US$ 100 mil em categorias como carne, laticínios e produtos básicos.
“Os consumidores estão optando por produtos mais baratos”, disse Rupesh D. Parikh, analista de ações da Oppenheimer & Co. que cobre alimentos, mercearias e produtos de consumo. Ele comprou recentemente uma caixa de cereal Kellogg’s Mini Wheats no Walmart, juntamente com a versão do Walmart. “O cereal da Kellogg’s era 75% mais caro, e eu não conseguia perceber a diferença entre eles”, comentou.
As grandes marcas, em resposta, já estão começando a oferecer descontos em certos alimentos, como salgadinhos. “A questão é até que ponto eles estão dispostos a ir nas promoções”, disse Parikh.
Supermercados aumentam lucro com Marca Própria
A expansão dos produtos de marca própria também é uma resposta a uma alteração no cenário dos supermercados.
A competição está se intensificando devido à consolidação, liderada pela proposta de fusão de US$ 24,6 bilhões da Kroger com a Albertsons, e à entrada nos EUA de concorrentes como a rede alemã de descontos Aldi, que abastece 90% de suas prateleiras com produtos de marca própria.
Em agosto, a Aldi concordou em adquirir 400 lojas dos supermercados Winn Dixie e Harveys, dando-lhe uma presença significativa na região Sudeste.
Os varejistas dizem que precisam dos produtos de marca própria para oferecer mais opções aos consumidores. As marcas próprias também costumam ser mais lucrativas para os varejistas do que os produtos das grandes empresas de alimentos.
Mas talvez o fator mais importante seja uma mudança nítida nas atitudes dos consumidores. As gerações mais velhas que cresceram com ketchup ou sopa “genéricos” lembram deles como versões sem graça e sem sabor das marcas conhecidas.
Leiam a reportagem completa no site Folha de S. Paulo.