A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) desenvolveu uma pesquisa sobre o contexto econômico do comércio atacadista e o futuro do setor, com o objetivo de entender melhor como este tem se comportado nos últimos anos e quais são as principais transformações e tendências. Apresentado por Thiago Carvalho, assessor da Entidade, esse foi um dos principais temas da reunião do Conselho do Comércio Atacadista, realizada no dia 22 de outubro.
De acordo com o documento, o modelo Direct to Consumer (D2C) e as empresas atacadistas se adaptando para atuar como operadores logísticos da Indústria já estão gerando transformações no setor. As mudanças no comportamento do consumidor, aceleradas durante a pandemia, bem como os usos da tecnologia e da Inteligência Artificial (IA) também exigiram modificações na operação. Isso indica que o futuro do atacado no Brasil será desafiador e, ao mesmo tempo, trará novas oportunidades.
O modelo D2C permite que marcas e indústrias vendam diretamente ao consumidor final, sem a necessidade de intermediários. Dessa forma, os produtos podem ser oferecidos a preços mais competitivos, uma vez que não é preciso incluir as margens de lucro de atacadistas e varejistas. Além disso, as marcas conseguem coletar dados diretamente dos consumidores, o que representa uma importante vantagem sobre os concorrentes.
Segundo a FecomercioSP, para competir com marcas D2C, empresários estão investindo nas próprias plataformas digitais e em estratégias de marketing direto ao consumidor. Isso inclui o desenvolvimento de lojas online, a implementação de sistemas de gestão de relacionamento com o cliente (do inglês Customer Relationship Management — CRM) e o uso de IA para melhorar a eficiência logística e a personalização de ofertas.
Logística e gestão de estoque
Ademais, em resposta ao crescimento do D2C, empresas atacadistas estão repensando o seu papel no ecossistema de distribuição. Algumas têm se tornado parceiras das marcas, oferecendo serviços como armazenamento, logística e assistência ao cliente, enquanto outras optam por desenvolver as próprias marcas D2C para conquistar uma parcela desse mercado em crescimento.
Na visão da Federação, investir em tecnologia é fundamental para se transformar em um operador logístico. As ações incluem sistemas de gestão de armazéns (WMS), sistemas de gerenciamento de transporte (TMS) e soluções de rastreamento em tempo real. Esses mecanismos ajudam a melhorar a visibilidade do inventário, a eficiência operacional e a satisfação do cliente.
A percepção da FecomercioSP é a de que muitas empresas atacadistas vão se transformar em operadores logísticos e gestores de estoque, trabalhando em parceria com a Indústria. Atualmente, várias marcas/indústrias priorizam o contato direto com os pequenos e microempresários — e, até mesmo, com o consumidor final. Dessa forma, conseguem ter acesso a informações importantes para as estratégias de negócios. Nesse contexto, as marcas enxergam o comércio atacadista como um parceiro.
Desempenho positivo no pós-pandemia
Para traçar o panorama com as principais tendências e estratégias do comércio atacadista nos próximos anos, a Federação analisou o desempenho do setor, principalmente no período pós-pandemia, com base nas informações da Pesquisa Anual do Comércio (PAC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados mostram que o comércio atacadista foi um dos setores que menos sofreu os efeitos negativos da crise sanitária e que se recuperou de forma mais rápida na reabertura e na volta à normalidade. Na opinião da FecomercioSP, parte desse desempenho pode ser atribuído às mudanças do comportamento do consumidor, que, para evitar o contágio, passou a preferir compras online e a demandar mais agilidade nas entregas e, consequentemente, na recomposição de estoques.
Também contribuíram para o resultado positivo transformações como a criação de parcerias de atuação entre essas empresas e a Indústria. Frente a essa necessidade, o comércio atacadista também se destacou ao ser o principal canal de abastecimento das micro e pequenas empresas.
De acordo com as informações do IBGE, a receita operacional do comércio atacadista atingiu R$ 3,4 trilhões em 2022, aumento de 24,4% em relação ao ano anterior. Nesse primeiro ano de volta à normalidade pós-pandemia, foi a maior taxa de crescimento entre os segmentos avaliados, ficando acima do comércio varejista (16%) e do comércio de veículos, peças e motocicletas (20,5%). O número de empresas e o montante de pessoal ocupado também cresceram em ritmo superior ao dos outros segmentos, superando os números de 2019, antes da pandemia.
Segundo análise da FecomercioSP, grande parte das atividades atacadistas apresentou crescimento de dois dígitos da receita, e as que apontaram melhor desempenho estavam ligadas ao cenário de reabertura e volta à normalidade em 2022. São os casos do comércio de calçados e artigos de viagem, por exemplo, que registrou aumento de 47%, e do atacado de artigos de escritório e de papelaria, papel, papelão e seus artefactos, que avançou 55,5%.
Dados mais recentes indicam a continuidade dessa tendência de crescimento do setor. Quanto ao mercado de trabalho, o comércio atacadista gerou quase 98 mil empregos com carteira assinada no Brasil, no ano passado. Entre janeiro e setembro de 2024, já são quase 75 mil novas vagas.